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Estudo de público e não-público

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  • #836

    Claro, vamos tentar formular as propostas, sem, contudo, esgotar o debate. Bom, me parece plausível que a primeira proposição tenha a ver com a definição de “público” para os museus. Eu ainda não sei se é possível universalizar essa definição, mas é interessante, ao menos, que cada museu conheça e explicite claramente o que ele define como público. Acho que essa é uma premissa para desencadear qualquer estudo nessa direção.

    #886

    Acho que a diferenciação que Isabella fez lá atrás é muito boa. Sobre o “será que os estudos de público têm classificado o público que vai ao museu visitar a exposição e o público que vai por outras finalidades ou atrativos? será que é preciso fazer essa diferenciação? ou todo público é público, independente se veio conhecer o acervo ou fazer uma ginástica no pátio?”, concordo muito que isso varia de museu pra Museu. Nestas pesquisas, o ponto inicial é pensar o que precisamos saber.
    Vai de um ponto, mais demográfico, do conhecimento básico sobre quantos, quem, quando e como são os visitantes. Dependendo do Museu, ele pode ficar muito satisfeito com o fato de ser visitado principalmente por jovens escolares, turistas,  ou famílias da região. Tudo isso depende muito de como o Museu se vê na comunidade, e como a comunidade se vê no museu, coisa que existe em milhares de espectros.

    Uma coisa que penso muito é: será que determinados museus, voltados pra própria comunidade, têm realmente de se preocupar com visitantes externos? Até que ponto um ajuste para atração de visitantes externos à comunidade não pode reduzir a fruição e a identificação da própria comunidade com o Museu? Porque muitas vezes determinada visão de melhoria de qualidade pode ser exatamente no sentido de uma gentrificação. Imagino, por exemplo, um padrão de cafeteria-bistrô, que muitas vezes não só aumentam o preço dos produtos como estabelecem padrões de consumo que podem estar drasticamente distantes de um público ou outro (não são todos os públicos que gostariam de uma empada de alho-poró, independentemente do valor). Daí uma das questões essenciais é: que tipo de resposta eu quero do meu público? Será que ele gosta dos serviços, que tipo que coisa sente falta, o que o leva a sentir menos ou mais o museu como uma instituição distante de sua realidade? Ele quer um museu distante da sua realidade?  Estas questões são muito distantes de museu para museu, de comunidade para comunidade.

    Estas pesquisas podem tomar sentidos variados desde a ‘demográfica’ (gênero, idade, origem) até um sentido mais tradicional de pesquisa de público. Neste ponto, pode-se perguntar o que acho da exposição, da disposição, das coisas expostas (se é intenção do museu avaliar a exposição), ou mesmo uma pesquisa sobre outras atividades. Que tipo de oficina as pessoas gostariam de ter acesso? Como avaliam as oficinas? Como avaliam os mecanismos burocrátivos para terem acesso ao museu para executar pesquisas. Algumas pesquisas destas são feitas assim, no espectro mais tradicional de pesquisa de público. Por exemplo: quanto você está disposto a gastar, e com o que, pra entrar, consumir, quanto tempo está disposto a ficar em uma atividade? Muito embora estas pesquisas tenho origem em consumo e em marketing (o que ainda pode ser questionado dependendo se alguem nao desejar fazer do museu um objeto ou espaço de consumo), ainda apresentam metodologias interessantes…

    Noutro ponto, quando se fala, por exemplo, em pagar entrada, pode ser importante considerar pesquisas sobre o publico e não publico, além das questões acima, em considerar o museu como um produto de consumo (é objetivo do museu ser um objeto de visitação?) ou um espaço de convivência (é objetivo do museu ser espaço do encontro?). Os objetivos traçados dizem muito do tipo de pergunta que se deve fazer, e a quem fazer, como fazer…

    Tá, acho que me perdi um pouco. Abraços

    #912
    Lucio Braga
    Membro

    Gostaria de opinar a partir da constatação de Isabella sobre aqueles que fruem o museu sem necessariamente buscarem a exposição. Acredito que o que importa é o museu como fenômeno. Sheinner propõe o olhar para a experiência humana entendendo o museu como fenômeno que: (….) remete a possibilidade de percebê-lo através da experiência de mundo de cada indivíduo- por meio das múltiplas e complexas relações que cada ator, ou conjunto de atores sociais estabelece com o real complexo. (SCHEINER, 2003, p 1)

    O museu aberto à experiência dos sujeitos levaria a uma museologia que afirmasse em primeiro lugar o ser humano em sua presença no mundo, uma vez que o patrimônio é musealizado a partir da experiência dos sujeitos com as coisas do mundo e dos sujeitos entre si. Assim seria possível recuperar o canto das musas em um formato de museu que incorporasse a sociedade e que, ao mesmo tempo, fosse por ela incorporado.

    Nesse caso o que vale é o processo e não o produto. Significa que devemos pensar o museu para além de seu espaço fisico, dando atenção aos processos museais subjetivos.

    Quem transita pela vizinhança do museu é publico? Só aquele que passa pela catraca ou assina o livro de visitas é publico de museu?

    Acredito que são os usos que definem o público. Assim, ao museu caberia ações que extrapolem seus muros, promovendo o canto das musas em diferentes espaços.

    #918

    Oi pessoal.

    Cada vez mais interessante o debate.

    Não respondi antes por estar de férias.

    Quanto à pesquisa do não-público que realizamos por aqui, envio abaixo trecho inicial do relatório (suas duas primeiras páginas).

     Penso que seria importante saber que museus já têm estudos sobre público e não-público.

     

    “O ‘não público’ dos museus: levantamento estatístico sobre o ‘não-ir’ a museus no Distrito Federal”

    A pesquisa O “não público” dos museus: levantamento estatístico sobre o “não-ir” a museus no Distrito Federal, conduzida pela Coordenação de Pesquisa e Inovação Museal (CPIM)[1] do Departamento de Processos Museais (DEPMUS) do IBRAM[2], tem como finalidade oferecer subsídios para a constituição de melhores e mais eficazes políticas públicas para o campo museal do Distrito Federal; que podem ser replicadas em outras Unidades da Federação, conforme as especificidades de cada localidade, a serem  indicadas pela pesquisa in loco.

    Nossa proposta é a de apresentar um levantamento estatístico dos motivos indicados pelos indivíduos para a não-frequência aos museus e as condições sociais e econômicas com as quais tal opção se relaciona.  Buscamos reunir dados sobre o perfil dos indivíduos que estamos denominando o “não público”.

    A categoria “não público” utilizada na pesquisa, refere-se ao conjunto de indivíduos que não frequentam museus.  Na literatura consultada dedicada aos estudos de públicos frequentadores de museus a categoria aparece empregada em duas ocasiões.  Laurent Fleury (2009) menciona o uso da categoria na França em maio de 1968 como sinônimo de “excluídos da cultura”, da cultura culta, incapazes de diversas formas de acessar essa cultura, não sendo considerados nem como um público potencial.  Outro emprego é mencionado por Luciana Köptcke (2012), no qual a categoria se refere a “aqueles que se diferenciam dos potenciais visitantes e dos praticantes efetivos em seu perfil sociocultural e demonstram pouco ou nenhum interesse ou familiaridade quando indagados a respeito destas instituições” (KÖPTCKE, 2012, 216).  Diferentemente desses dois autores, o uso da categoria “não público” em nossa pesquisa engloba tanto os segmentos sociais que são potencialmente público dos museus, como aqueles que não possuem nenhum interesse neles.  Portanto, “não público” na presente pesquisa é mais um conceito heurístico, um guia para identificar aqueles indivíduos, segmentos sociais que não frequentam museus e traçar um perfil socioeconômico, cultural e etário desse conjunto.  Os resultados da pesquisa pretendem ser uma aproximação a esse conjunto de indivíduos, de segmentos sociais que podem se apresentar como uma grande diversidade de “não públicos”.

    A relação com espaços e práticas culturais é fruto de dinâmicas de socialização. Assim a disposição, por exemplo, para a prática cultural de ir a museus não constitui um ato natural. É o resultado de um processo dinâmico de constituição cultural.  O estar na cidade e a proximidade de aparelhos culturais, como os museus, não promovem universalmente sua apropriação. Variáveis como nível de renda, escolarização, condições de moradia, gênero, capital cultural, situação geracional, entre outros, representam aspectos importantes para compreendermos as formas distintas de uso e apropriação dos espaços e práticas culturais.

    Se o hábito de frequentar espaços culturais como os museus não constitui um processo “natural” e automático da população como um todo, a condição de “não público” não se define apenas por motivos de falta de acesso devido à distância geográfica ou desconhecimento, mas também pela inexistência da demanda imediata de ir a museus.  Em outras palavras, há segmentos sociais que não compreendem a ida ao museu como algo “necessário” em suas vivências estéticas e culturais, isto é, não possuem a disposição, o habitus requerido para a frequentação desta instituição cultural (BOURDIEU; DARBEL, 2003).  Seriam, portanto, indivíduos despossuídos dos meios simbólicos necessários para a fruição dos bens culturais musealizados, os quais são adquiridos pela educação familiar e escolar, isto é, pela transmissão de capital cultural mediante práticas pedagógicas formais e informais.[3]

    A pesquisa tem um aspecto piloto e foi inicialmente aplicada, por meio de amostragem estatística, no Distrito Federal. Os dados finais ajudam a compreender as características dos indivíduos e grupos sociais que não acessam um espaço cultural como os museus. Este conhecimento pode disponibilizar subsídios e orientações para as políticas públicas museais visando reduzir a exclusão cultural e ampliar o usufruto do direito à memória.

    [1] A equipe CPIM responsável pela pesquisa: André Amud Botelho, Eneida Quadros Queiroz, Ramiro Queiroz Silveira, Robson dos Santos, Sandro dos Santos Gomes, Vitor Rogerio Oliveira Rocha e Álvaro Marins (coordenador).

    [2] Agradecemos pela participação dos colegas do DEPMUS nas discussões a respeito do projeto de pesquisa e seu desenvolvimento, bem como no trabalho de campo, especialmente Cinthia Maria Rodrigues Oliveira, Marijara Souza Queiroz, Mirela Leite De Araujo, Monica Padilha Fonseca, Rafaela Mendes Medeiros e Valdemar de Assis Lima.

    [3] Mas é preciso considerar que há nos segmentos sociais detentores dos meios simbólicos necessários para a fruição dos bens culturais musealizados indivíduos que não apreciam museus.  Isso coloca a questão de que a simples posse dos meios necessários ainda não resulta em uso automático.  O gosto por museus, assim como qualquer gosto expresso em práticas culturais, envolve aprendizado e exercício condicionados pelo ambiente familiar e escolar.

     

     

    #957

    Olás!

    Tenho aprendido muito com vocês!

    Pois é, Ramiro, pensei sobre os seus questionamentos: “será que determinados museus, voltados pra própria comunidade, têm realmente de se preocupar com visitantes externos? Até que ponto um ajuste para atração de visitantes externos à comunidade não pode reduzir a fruição e a identificação da própria comunidade com o Museu?”.

    Mesmo que o museu defina um determinado seguimento como “público-alvo”, para mim, isso não significa que ele deva excluir de seus esforços os demais públicos. Até porque, pensando na perspectiva de museu como fenômeno, apontada pelo Lúcio, é possível para um museu definir qual público ele quer, mas escapa ao seu alcance delinear qual público quer a experiência daquele museu.

    Ao invés de nos voltarmos para um público OU outro, não seria melhor pensarmos em um público E outro??

    O desafio, ao meu ver, é equacionar as ações do museu para esta pluralidade.

    Acho que as pesquisas de público são um importantíssimo instrumento para auxiliar nesse tipo de decisão e formulação de estratégias. Mas suponho que elas ainda são muito tímidas, não é mesmo?

    O PNEM pode ser um ponto de partida para que as pesquisas e estudos de público adquiram nova conotação nos espaços e práticas museais.

    Discutimos aqui um pouco sobre princípios das pesquisas, mas também, eu particularmente, sinto muita falta de saber sobre as metodologias, não tenho essa formação… definir o tipo de pesquisa mais adequado, amostragens, cruzamentos, estatísticas, tabulações… para a minha “euquipe” a tarefa é bem complexa!

    André, obrigada pela contribuição nesse sentido….

    Abraços,

    Isabella

     

    #966
    Lucio Braga
    Membro

    “Ao invés de nos voltarmos para um público OU outro, não seria melhor pensarmos em um público E outro??”

    Acho que o debate está muito bem qualificado e revela a complexidade da questão. Não podemos mais reafirmar  cenários desoladores como os daqueles que dizem que no Brasil frequentar museus é para as elites, com hábitos de uma “alta cultura”.

    E para isso é preciso buscar um público e outro, com projetos significativos que partam das experiências subjetivas no espaço museal.

    Os museus recebem visitantes que dialogam com as exposições. Os visitantes são sujeitos andarilhos que percorrem um trajeto na relação com objetos, cenários, espaços vazios e com outros sujeitos no museu. O museu convida a percorrer esse trajeto. Os visitantes são andarilhos que trilham o museu em sua busca por conhecimento ou outras mediações possíveis com a exposição. Nesse trajeto, produzem outras narrativas, reinventam, recontam, incluem narrativas fantásticas a partir de suas memórias. Há também espaço para imaginações construídas pelos sujeitos andarilhos que na experiência sensível criam novas imagens, sínteses, narrativas poéticas, ressignificando a linguagem museal.

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