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André Amud Botelho

Respostas no Fórum

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  • em resposta a: Estudo de público e não-público #918

    Oi pessoal.

    Cada vez mais interessante o debate.

    Não respondi antes por estar de férias.

    Quanto à pesquisa do não-público que realizamos por aqui, envio abaixo trecho inicial do relatório (suas duas primeiras páginas).

     Penso que seria importante saber que museus já têm estudos sobre público e não-público.

     

    “O ‘não público’ dos museus: levantamento estatístico sobre o ‘não-ir’ a museus no Distrito Federal”

    A pesquisa O “não público” dos museus: levantamento estatístico sobre o “não-ir” a museus no Distrito Federal, conduzida pela Coordenação de Pesquisa e Inovação Museal (CPIM)[1] do Departamento de Processos Museais (DEPMUS) do IBRAM[2], tem como finalidade oferecer subsídios para a constituição de melhores e mais eficazes políticas públicas para o campo museal do Distrito Federal; que podem ser replicadas em outras Unidades da Federação, conforme as especificidades de cada localidade, a serem  indicadas pela pesquisa in loco.

    Nossa proposta é a de apresentar um levantamento estatístico dos motivos indicados pelos indivíduos para a não-frequência aos museus e as condições sociais e econômicas com as quais tal opção se relaciona.  Buscamos reunir dados sobre o perfil dos indivíduos que estamos denominando o “não público”.

    A categoria “não público” utilizada na pesquisa, refere-se ao conjunto de indivíduos que não frequentam museus.  Na literatura consultada dedicada aos estudos de públicos frequentadores de museus a categoria aparece empregada em duas ocasiões.  Laurent Fleury (2009) menciona o uso da categoria na França em maio de 1968 como sinônimo de “excluídos da cultura”, da cultura culta, incapazes de diversas formas de acessar essa cultura, não sendo considerados nem como um público potencial.  Outro emprego é mencionado por Luciana Köptcke (2012), no qual a categoria se refere a “aqueles que se diferenciam dos potenciais visitantes e dos praticantes efetivos em seu perfil sociocultural e demonstram pouco ou nenhum interesse ou familiaridade quando indagados a respeito destas instituições” (KÖPTCKE, 2012, 216).  Diferentemente desses dois autores, o uso da categoria “não público” em nossa pesquisa engloba tanto os segmentos sociais que são potencialmente público dos museus, como aqueles que não possuem nenhum interesse neles.  Portanto, “não público” na presente pesquisa é mais um conceito heurístico, um guia para identificar aqueles indivíduos, segmentos sociais que não frequentam museus e traçar um perfil socioeconômico, cultural e etário desse conjunto.  Os resultados da pesquisa pretendem ser uma aproximação a esse conjunto de indivíduos, de segmentos sociais que podem se apresentar como uma grande diversidade de “não públicos”.

    A relação com espaços e práticas culturais é fruto de dinâmicas de socialização. Assim a disposição, por exemplo, para a prática cultural de ir a museus não constitui um ato natural. É o resultado de um processo dinâmico de constituição cultural.  O estar na cidade e a proximidade de aparelhos culturais, como os museus, não promovem universalmente sua apropriação. Variáveis como nível de renda, escolarização, condições de moradia, gênero, capital cultural, situação geracional, entre outros, representam aspectos importantes para compreendermos as formas distintas de uso e apropriação dos espaços e práticas culturais.

    Se o hábito de frequentar espaços culturais como os museus não constitui um processo “natural” e automático da população como um todo, a condição de “não público” não se define apenas por motivos de falta de acesso devido à distância geográfica ou desconhecimento, mas também pela inexistência da demanda imediata de ir a museus.  Em outras palavras, há segmentos sociais que não compreendem a ida ao museu como algo “necessário” em suas vivências estéticas e culturais, isto é, não possuem a disposição, o habitus requerido para a frequentação desta instituição cultural (BOURDIEU; DARBEL, 2003).  Seriam, portanto, indivíduos despossuídos dos meios simbólicos necessários para a fruição dos bens culturais musealizados, os quais são adquiridos pela educação familiar e escolar, isto é, pela transmissão de capital cultural mediante práticas pedagógicas formais e informais.[3]

    A pesquisa tem um aspecto piloto e foi inicialmente aplicada, por meio de amostragem estatística, no Distrito Federal. Os dados finais ajudam a compreender as características dos indivíduos e grupos sociais que não acessam um espaço cultural como os museus. Este conhecimento pode disponibilizar subsídios e orientações para as políticas públicas museais visando reduzir a exclusão cultural e ampliar o usufruto do direito à memória.

    [1] A equipe CPIM responsável pela pesquisa: André Amud Botelho, Eneida Quadros Queiroz, Ramiro Queiroz Silveira, Robson dos Santos, Sandro dos Santos Gomes, Vitor Rogerio Oliveira Rocha e Álvaro Marins (coordenador).

    [2] Agradecemos pela participação dos colegas do DEPMUS nas discussões a respeito do projeto de pesquisa e seu desenvolvimento, bem como no trabalho de campo, especialmente Cinthia Maria Rodrigues Oliveira, Marijara Souza Queiroz, Mirela Leite De Araujo, Monica Padilha Fonseca, Rafaela Mendes Medeiros e Valdemar de Assis Lima.

    [3] Mas é preciso considerar que há nos segmentos sociais detentores dos meios simbólicos necessários para a fruição dos bens culturais musealizados indivíduos que não apreciam museus.  Isso coloca a questão de que a simples posse dos meios necessários ainda não resulta em uso automático.  O gosto por museus, assim como qualquer gosto expresso em práticas culturais, envolve aprendizado e exercício condicionados pelo ambiente familiar e escolar.

     

     

    em resposta a: Estudo de público e não-público #821

    Oi pessoal.

    Isabella, terminamos o trabalho sim. Fomos às ruas aqui em Brasília e fizemos entrevistas partir de uma amostra estratificada que construímos. Posso enviar.

     

    em resposta a: Estudo de público e não-público #814

    Olá pessoal.

    Interessante a discussão.

    Como indicado por vocês acima, também penso que os estudos de público devam ser objeto de esforço dos museus por sinalizarem mesmo o que são tais instituições em contextos variados. E o método comparativo entre as diversas pesquisas pode ser norteador de novas políticas para aumento da atuação dos museus em suas comunidades.

    Ao chegar ao IBRAM, a impressão que eu e meus colegas tivemos, apesar do discurso valorizador dos museus, é de que tais instituições tinham pouquíssima  inserção  na vida dos brasileiros. Por essa e outras razões, nos lançamos em esforço por um levantamento estatístico do “não-público dos museus” aqui em Brasília.

    Uma possibilidade é que pesquisas de não-público desenhadas pelos museus tornem mais claros elementos que aumentem sua relevância social.

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